Foto: Iasmin Pereira/UFCG
As quadrilhas juninas, tradicionalmente conhecidas como manifestações folclóricas, vêm conquistando um novo espaço dentro das salas de aula do Nordeste. Em Campina Grande, elas têm se consolidado como importantes instrumentos pedagógicos, capazes de promover o pertencimento cultural e a valorização das tradições populares entre crianças e adolescentes.
Ricas em danças coreografadas, comidas típicas e as mais diversas e genuínas manifestações tradicionais nordestinas, as celebrações juninas estão sendo incorporadas ao currículo escolar como atividades interdisciplinares. Por meio de vivências práticas, leitura de autores regionais e dinâmicas em grupo, alunos e professores constroem experiências educativas que conectam cultura, identidade e história.
O sentimento de valorização das raízes também é compartilhado pelos pais dos estudantes que participam das quadrilhas juninas infantis. “Eu incentivo minha filha desde pequena a vivenciar essa tradição. Quero mostrar a ela nossas raízes, a cultura da nossa cidade. O São João não é só no mês de junho, a gente respira São João o ano inteiro aqui em Campina Grande”, relatou Jéssica Silva, mães de dois dos alunos participantes.
O resultado desse trabalho é compartilhado com a população nas apresentações realizadas nas próprias escolas e nos festivais de quadrilhas juninas. Esse tipo de eventos reforça como a escola pode ser um espaço vivo de memória e resistência cultural, onde passado e presente se encontram para fortalecer o futuro das novas gerações.
As celebrações juninas no ambiente escolar têm se mostrado muito mais do que momentos festivos, são experiências educativas que envolvem narrativa, identidade e arte. É o que destaca a professora Gisele Sampaio, coordenadora de cultura, ao comentar os desafios e os impactos de trabalhar essa temática com crianças e adolescentes. Segundo ela, inserir a cultura nordestina no currículo vai além da ornamentação das escolas. Trata-se de criar um contexto narrativo que permita aos alunos compreenderem e se expressarem por meio da tradição.
“Um dos principais desafios é justamente trazer para a escola todo esse contexto narrativo sobre as festas juninas”, explicou Giseli Sampaio, ao acrescentar que “Mas, quando os jovens, as crianças e os adolescentes se apropriam dessa temática, vivenciam e conseguem transformar esse aprendizado em uma culminância artístico-cultural, o desafio deixa de ser um obstáculo”, destacou.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Anísio Teixeira, que participou do Festival de Quadrilhas Juninas nas Escolas, por exemplo, a organização da apresentação foi planejada com bastante antecedência. Segundo a diretora da escola Janaína Regis, tudo começa com a escolha do tema, respeitando o regulamento do evento. “A partir dessa definição, iniciamos a criação do roteiro, do cenário, trilha sonora e coreografia. Para isso, contamos com diversos parceiros da escola e do bairro”, relatou.
Esse cuidado com cada etapa do processo reforça o caráter coletivo e educativo das quadrilhas juninas, que tem a dança como expressão e envolve outros conhecimentos. Elas se tornam experiências formativas, mobilizando a comunidade escolar e promovendo o trabalho em equipe, a criatividade e o respeito à cultura popular.
Para Wênia Sonály, que construiu sua trajetória nas quadrilhas juninas desde os tempos em que foi Rainha Junina até sua atual atuação como jurada em festivais realizados em diversas regiões do país, essa vivência é uma forma potente de manter viva a cultura popular e transmitir valores entre gerações. “Atualmente, posso contribuir com minha arte por meio de oficinas realizadas nas escolas, sob a coordenação de eventos da SEDUC, levando a experiência das grandes quadrilhas para dentro do ambiente educacional”, afirmou.
A continuidade e o fortalecimento dessa manifestação cultural a partir de uma inserção cada vez maior das quadrilhas juninas como ferramenta pedagógica e sociocultural, é algo de extrema importância para preservar a identidade e o orgulho cultural, funcionando como forma de resistência e envolvendo as novas gerações no conhecimento de suas raízes, na valorização das tradições e na responsabilidade de mantê-las vivas.
*Do Portal Paraiba Online Reportagem: Nayara Rocha e Ana Júlia Cardoso
Imagem: Iasmin Pereira
Edição: Carol Bezerra