Amigão e Almeidão: 50 anos de rivalidade e política nos principais estádios da Paraíba

Principais estádios da Paraíba completam meio século de história neste fim de semana

SSCOM

Foto: Ícaro Santos

O fim de semana será especial para o futebol da Paraíba. Além do início das semifinais do Campeonato Paraibano, os estádios Amigão e Almeidão completam 50 anos de fundação. As duas maiores praças esportivas do estado foram palco de jogos históricos e momentos marcantes do futebol paraibano. Ao longo desse meio século, tornaram-se a casa de diversas torcidas, especialmente as de Auto Esporte, Botafogo-PB, Campinense e Treze, que certamente guardam grandes lembranças vividas nas arquibancadas dessas praças.

Em homenagem ao aniversário de 50 anos do Amigão e Almeidão, o Arena Correio vai relembrar um pouco a história dessa história marcada pela rivalidade dentro de campo e pela política.

Um projeto ambicioso

Até o início dos anos 1970, a Vila Olímpica Parahyba, em João Pessoa, e o Presidente Vargas, em Campina Grande, eram os principais estádios da Paraíba, com capacidade média para cinco mil torcedores cada. Com o Brasil conquistando o tricampeonato da Copa do Mundo em 1970, o governo brasileiro — que, à época, estava sob o regime militar — queria aproveitar o bom momento da Seleção e expandir o campeonato nacional, garantindo que todos os estados tivessem um representante. No entanto, a Paraíba corria o risco de ficar de fora por não possuir estádios que atendessem aos requisitos exigidos.

Diante desse cenário, o então governador Ernani Sátiro decidiu construir não apenas um, mas dois novos estádios no estado. Nominando Diniz Filho, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) e filho do ex-deputado estadual Nominando Diniz — líder do governo na Assembleia Legislativa da Paraíba —, relembra que havia recursos para erguer um estádio em João Pessoa. Porém, já naquela época, existia uma forte rivalidade entre a capital e Campina Grande. Com isso, tudo o que era feito em uma cidade precisava ser replicado na outra. Esse desejo de agradar as duas partes, no entanto, resultou em dois estádios que, mesmo após cinco décadas, ainda não foram totalmente concluídos.

Nominando Diniz Filho, ex-presidente do TCE-PB. (Foto: Divulgação)

A Paraíba ganhou dois estádios, ainda hoje inacabados, porque os recursos não davam para fazer dois estádios quando os recursos alocados eram para um estádio. Mas como ainda hoje o que o governador investe na capital tem de investir em Campina Grande, merecidamente, o então governador Ernani Sátiro em vez de um, fez dois estádios. E ambos continuam, depois de muitos anos, ainda inacabados. Quem conhece os estádios de futebol sabe que na parte traseira aos gols ainda necessita de um complemento. Não sei se um dia governadores irão destinar recursos para tal, destacou Nominando Diniz.

Para a construção dos estádios, foi criada a Superintendência de Desenvolvimento dos Estádios da Paraíba (Sudepar). O engenheiro Carlos Pereira foi escolhido para comandar a pasta e chefiar as obras.

Carlos Pereira, engenheiro responsável pela construção do Amigão e Almeidão. (Foto: Reprodução)

Carlos tinha dois grandes desafios: concluir as obras em um ano e meio, entregando-as em março de 1975; e, a pedido do governador Ernani Sátiro, projetar dois estádios iguais, mas diferentes.

Ele disse: ‘Eu quero dois estádios iguais, porém, tem que ser diferentes’. Então, o projeto era o mesmo, mas tem uma diferença. Se você for ver a fachada do Almeidão e do Amigão, eles têm uma diferença. No Amigão, os arcos da fachada são voltados para cima, do Almeidão, os arcos são voltados para baixo. Então, fizemos dois estádios em 18 meses, iguais e diferentes, conforme o governador queria, conta o engenheiro.

Inauguração com momentos de tensão

Passados 18 meses, os estádios ficaram prontos. Como o Botafogo do Rio de Janeiro era o time do coração do governador, a equipe carioca foi convidada para os jogos inaugurais. No dia 08 de março, Campinense e Botafogo disputaram a primeira partida do Amigão. Um empate sem gols que não tirou a alegria da festa dos torcedores.

No dia seguinte, foi a vez do duelo de xarás em João Pessoa. Mas, antes de a bola rolar, a inauguração do Almeidão quase foi marcada por uma tragédia. Após o término da construção do dois estádios, o grupo de oposição ao governador Ernani Sátiro espalhou boatos de que as construções poderiam desabar.

Matérias do Jornal Correio da Paraíba. (Foto: Arquivo)

Momentos antes do apito inicial, os torcedores foram surpreendidos por um barulho de explosão na arquibancada. Receosas com as informações que circulavam sobre o desabamento, as pessoas tentavam sair a qualquer custo, criando um momento de muita tensão.

“Eu estava na tribuna de honra com o governador, todo mundo esperando começar o jogo e correu todo mundo de arquibancada abaixo. O meu coração quase parou. Quinze dias antes havia acontecido um incidente muito grave em um estádio do Piauí, em Teresina. Houve um problema desse, e todo mundo correu para o fosso da arquibancada, o gradil cedeu, e morreu gente. Quando vi aquela multidão descendo para o gradil, meu coração parou. Quando empurraram o gradil, o gradil não cedeu. Só houve uma pessoa que pulou o gradil com medo e quebrou a perna”, relembrou Carlos Pereira.

Depois do grande susto, a bola rolou, e o Glorioso acabou vencendo o Botafogo-PB por 1 a 0.

Disputa pelo nome

A rivalidade política ainda protagonizou mais um capítulo dessa história. Quando foram inaugurados, os estádios levaram o nome do governador Ernani Sátiro. Ainda em 1975, a praça desportiva de João Pessoa foi renomeada para José Américo de Almeida Filho, em homenagem ao filho do ex-presidente do Botafogo-PB.

Matéria do Jornal Correio da Paraíba sobre o nome do estádio Almeidão. (Foto: Arquivo)

Só que, em Campina Grande, a resistência para homenagear o ex-governador Ernani Sátiro foi grande por parte dos deputados da Assembleia Legislativa. Após duas semanas de intensas discussões, eles chegaram a um acordo, como conta Nominando Diniz.

“Me lembro quando um Projeto de Lei foi encaminhado para a Assembleia Legislativa para denominar o estádio de José Américo de Almeida Filho, de Almeidão, em homenagem ao filho de José Américo de Almeida, que havia falecido em um acidente, tinha sido presidente do Botafogo-PB, era um botafoguense reconhecido, não houve questionamento. Mas quando foram denominar de Ernani Sátiro, houve uma reação da oposição e dos deputados que na época eram do Arena, mas faziam oposição ao então governador Ernani Sátiro. Foram duas semanas de discussão e de debates, mas, no final, prevaleceu o nome de ‘Amigão’, porque, naquela época, o governador Ernani Sátiro se dirigia às pessoas chamando de “amigo velho”. Então, subentendia-se que era uma justa homenagem ao governador Ernani Sátiro”.

Um novo momento

Ao longo dos últimos 50 anos, Amigão e Almeidão foram palcos de grandes jogos, títulos inesquecíveis e públicos históricos. Em 2013, por exemplo, o Campinense escreveu um dos capítulos mais marcantes do futebol paraibano ao conquistar a Copa do Nordeste no Amigão, superando adversários como Sport e Fortaleza antes de vencer o ASA na final. No mesmo ano, o Botafogo-PB gravou seu nome na história do futebol nacional ao se sagrar campeão da Série D do Campeonato Brasileiro diante de um Almeidão lotado, em uma decisão contra o Juventude.

Estádio Amigão, em Campina Grande. (Foto: Estefinho Francelino)

Após as reformas realizadas no governo de Ricardo Coutinho, os estádios ganharam novos gramados, mas tiveram sua capacidade reduzida praticamente pela metade. Na final do Campeonato Paraibano de 1998, por exemplo, o Almeidão registrou seu maior público, com mais de 44.268 torcedores no duelo entre Botafogo-PB e Campinense. Hoje, tanto na capital quanto na Rainha do Borborema, as arquibancadas comportam, em média, 20 mil pessoas.

“Quando eu vejo os domingos com o estádio lamentavelmente quase vazio, eu me lembro do trabalho que deu para fazer o estádio, que já recebeu um público de quase 40 mil espectadores. E é uma das minhas conquistas profissional, porque aquilo foi uma encomenda que eu nunca imaginei que fosse entregue a mim. O Almeidão tem prestado um enorme serviço ao desporto da Paraíba, porque se não fosse aquele estádio, não teríamos clube nenhum na Paraíba nos campeonato nacionais, tanto em João Pessoa como em Campina Grande”, revela Carlos Pereira.

PortalCorreio

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